Uma senhora me escreve:
No caso de estupro, 99% das mulheres optam pela interrupção, até como uma forma de alívio psicológico. Ninguém quer carregar dentro de si as sementes do mal. Superestimar a vida intra-uterina de um ser concebido à força é que se mostra como a verdadeira relativização da vida: é colocar a saúde física e psicológica da vítima em segundo plano, em detrimento da superproteção ao fruto do crime.
Não sei se a missivista é cientista… Ou apenas tem bola de cristal. Em todo o caso, transcrevo as seguintes notícias publicadas pelo G1:
Menina de 11 anos dá à luz no RS
Padrasto é suspeito de ter abusado de enteada e ser pai da recém-nascida.
Mãe e filha passam bem e devem ficar três dias em observação.
Do G1, em São Paulo, com informações do ClicRBS*
Uma garota de 11 anos deu à luz uma menina na quarta-feira (11), em Tenente Portela (RS). O bebê nasceu com 2,8 quilos e 45 centímetros, de cesárea. As duas passam bem. A jovem mãe teria sido violentada pelo padrasto, de 51 anos. Ele está preso e é suspeito de ser pai da recém-nascida.
O ginecologista e obstetra Claudio José Furini, que fez o parto, disse que a gestação já havia completado oito meses e meio. “Sob o ponto de vista médico, está tudo ótimo com a mãe e com a filha. A menina parece feliz com a maternidade, já pegou o bebê no colo”, afirmou.
Mãe e filha deverão ficar internadas, em observação, durante pelo menos três dias. Depois, devem retornar juntas para casa, em Iraí (RS). Familiares afirmam que a menina faz questão de cuidar da própria filha e descartam a possibilidade de encaminhamento para adoção. “Nem dar (o bebê) ela não quer, diz que vai ser a relíquia dela, que ela mesma vai cuidar”, conta a irmã de criação de 25 anos, que mora na mesma casa.
O padrasto, que é pedreiro, foi denunciado por estupro. Ele se apresentou à polícia na terça-feira (10) e foi encaminhado a um presídio.
Menina de 13 anos que ficou grávida do pai não quer abortar na Bahia
Vítima está grávida de 4 meses em Guaratinga e começa a fazer pré-natal.
Pai está preso e teria confessado o crime à polícia.
Glauco Araújo Do G1, em São Paulo
A menina de 13 anos, que ficou grávida do pai após ser estuprada por ele em novembro do ano passado, não pretende fazer aborto em Guaratinga (BA), segundo informações da conselheira tutelar Lindidalva Batista Santana, que obteve a guarda provisória da jovem.
“Não haverá o risco de acontecer a mesma polêmica que aconteceu em Pernambuco (quando uma menina de 9 anos ficou grávida após um estupro e os médicos fizeram aborto para preservar a vida dela [sic]), pois a menina não pretende fazer um aborto. Ela quer continuar a com a gravidez até o fim“, disse Lindidalva.
A guardiã da menina de 13 anos disse ainda que foram feitos exames periciais no Instituto de Criminalística de Porto Seguro para atestar a violência sexual. “Além disso, a acompanhei até um médico, que fez uma ultrassonografia para saber como estava a saúde da criança e está tudo bem com o bebê.”
A menina está grávida de 17 semanas, o equivalente a cerca de quatro meses de gestação. “Ela não fez nenhuma tipo de pré-natal. Agora, que estou com a guarda provisória dela, faremos todo o acompanhamento médico para que ela não tenha problemas na gravidez”, disse Lindidalva.
Como podemos constatar, esses dois casos são exceções na estatística citada pela missivista – aliás, de onde ela tirou esses dados, de que 99% por cento das mulheres que sofrem violência sexual e engravidam preferem realizar o aborto a terem os bebês? Deve ser do mesmo instituto de pesquisa que repete à exaustão a mesma ladainha de que “um milhão de abortos são realizados no Brasil todos os anos…”
Mas eu queria mesmo era saber uma coisa.
Essa senhora teria coragem de, estando diante dessa menininha gaúcha e de seu bebê recém-nascido, chamá-lo de “semente do mal”?
Teria coragem de, diante dessa heroína de 13 anos, chamar o bebê que está em gestação em seu ventre de “fruto de um crime”?
O que essa senhora “esquece” é que os filhos não são apenas daqueles que cometeram a horrível violência. Os filhos também são das vítimas. Foram concebidos no corpo delas, portanto trazem em si algo dessas meninas também.
Uma mulher inocente, uma criança, pode trazer dentro de si uma “semente do mal”? Uma menininha concebeu dentro de si o “fruto de um crime”?
Quem teria a coragem de chegar perto de uma pessoa concebida por um estupro e dizer: “Você não devia ter nascido. Você não devia existir. Você é apenas uma ‘semente do mal’ que vingou. Você é o fruto de um crime, nada mais”.
Isso não seria apenas uma falta de respeito com o bebê. Seria uma desumanidade com a mãe, também.
Quando alguém enche a boca para definir uma vida humana inocente com os termos “semente do mal” e “fruto de um crime” não está relativizando essa vida?
É justo e moralmente correto chamar um bebê de… “semente do mal”? Então, sua mãe foi a terra que fez germinar essa semente?